Dra Alessandra Bertinatto
Publicado: 18/04/2020
Parece que no Ocidente as pessoas consideram o Yoga como uma atividade física, meramente a prática de Asanas… Mas o Yoga vai muito além… Venha ver!
"Agora começa o Yoga"
Atta Yoganusasanam
"Yoga é a cessação das modificações mentais"
Yoga citta vritti nirodha
Asanas são as posturas que praticamos no Yoga. Porém, o curioso é que não são simples posturas, são posturas psicofísicas. Puras geometrias energéticas que trazem influência a todos os nossos corpos, e não apenas ao corpo físico denso.
Dessa forma, se ouvir alguém falando que Yoga é igual a Pilates ou acrobacias, dispense o comentário. Adoro Pilates, acrobacias nem tanto, mas fato é que o Yoga vai além. Só praticando para poder perceber com clareza. A intenção da prática é diferente.
Embora os efeitos físicos sejam fantásticos (alongamento, fortalecimento, massageamento dos órgãos internos, respiração, etc.), não se realiza o Asana apenas com propósitos físicos, mas também com propósitos imateriais (autoconhecimento, expansão da consciência, meditação, iluminação, entre outros).
Quanto mais avançamos na prática com disciplina e não violência, mais adentramos em nossa verdade interior e podemos ser plenos!
A tradução da palavra Asana é simplesmente postura. Porém, em seu contexto filosófico, essa postura deve ser facilmente mantida para que não gere modificações mentais. Portanto deve ser estável e confortável: nem tão estável que leve à tensão, nem tão relaxada que induza ao sono (Rohit Mehta).
Os conceitos que envolvem esse pensamento são sthira e sukha, que são as polaridades de expansão e retração que acontecem em nosso pulsar pela vida. Coração, respiração, movimentos peristálticos, alongamento e fortalecimento, firmeza e relaxamento.
Essa firmeza denota força interna, enquanto relaxamento significa suavidade. Quando realizamos a postura com força interna e suavidade, geramos um movimento prânico (energia vital) altamente curador, capaz de atuar em todos os níveis de nossa consciência.
Essa postura firme e relaxada é possível quando a mente está serena e vice-versa.
Permanecer firme e sem tensão, por certo tempo, na postura é o grande passo para construirmos um corpo perfeito e adamantino, como dizem os mestres do Yoga.
Durante a prática dos Asanas, a mente, a respiração e a consciência corporal devem estar unidas para que o equilíbrio de prana e apana se estabeleça, proporcionando assim a plena condição para se atingir um corpo saudável e uma mente livre de distrações.
Nessa condição, o praticante poderá ser conduzido à prática mais profunda do Yoga, que é a Meditação, a qual possibilita a experiência direta da autorrealização, conhecida como Samadhi.
No capítulo II do Sutra 46 de seu tratado de Yoga, Patanjali (o grande sábio do Yoga) define o Asana como “sthira sukham asanam”, cuja tradução pode ser algo como “a postura deve ser estável e confortável”.
Portanto, não adianta vc fazer um Asana superdifícil e ficar com sua mente reclamando internamente ou sentindo seus músculos se estirarem e suas articulações se torcerem. Tudo tem seu tempo, e a determinação, a disciplina e a constância vão te levar longe. Mas não tenha pressa, esteja exatamente onde você está hoje e continue avançando.
Antes de Asanas perfeitos, precisamos estar plenos em questões éticas e comportamentais, porque essas atuam diretamente em nossa postura corporal, em nossa maneira de nos posicionarmos perante a vida.
Temos que ter em mente que praticamos Asanas diversos para organizar e fortalecer nosso corpo físico, encontrar o corpo mental e emocional dentro de nós, aperfeiçoar nosso comportamento e nossa postura perante a vida e, enfim, nos colocarmos sentados para meditação, sem que dores no corpo e dispersões mentais interrompam o processo de equanimidade ao qual o Yoga nos leva.
Há apenas dois tipos de Asanas, existindo o primeiro em função do segundo:
os Asanas que exercitam o Corpo inteiro e, em particular, a coluna vertebral, com flexões, extensões, rotações, lateralidades e inversões;
os Asanas de Meditação, que colocam o corpo de forma estável e imóvel, equilibrando as correntes energéticas e preparando a mente para Meditação.
Segundo o tratado do Gheranda Samhita II.1,2, “existem 84 milhões de asanas descritos por Shiva. Dentre eles, 84 são os mais importantes e, desses, 32 são muito bons nesse mundo”.
Na tradição hindu, Shiva é o destruidor, que destrói para construir algo novo, motivo pelo qual muitos o chamam de “renovador” ou “transformador”.
A criação do Yoga — prática que produz transformação física, mental e emocional, portanto intimamente ligada à transformação — é atribuída a ele.
Considera-se que Shiva inventou 84 asanas básicos para ajudar as pessoas a purificar o corpo e prepará-lo para a meditação. Esse tipo de Yoga é chamado de Hatha Yoga, que significa um Yoga que envolve energia e determinação, onde a disciplina física nos prepara para a disciplina mental e espiritual da meditação, o Raja (régio) Yoga.
Diz a tradição que a deusa Parvati convenceu Shiva (seu esposo) a inventar o Yoga por compaixão. A vida é dura. A felicidade geralmente é esquiva. Nós adoecemos, ficamos velhos e morremos. Nós nos tornamos vítimas da ilusão de que isso é tudo o que existe.
Ao compreender como é difícil manter a perspectiva, Parvati pediu ao Senhor Shiva que inventasse um sistema que ajudasse as pessoas a lidar com o inevitável sofrimento inerente à vida de um ser humano, e ele fez isso. Assim sendo, ele é honrado como o primeiro professor de Yoga, e ela, como a primeira aluna.
Shiva é considerado um dançarino cósmico. Ele apresenta sua dança divina para destruir o que for necessário no universo e assim poder fazer a preparação para o Deus Brahma começar o processo de criação.
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Fonte: PACKER, M. L. G., no livro A Senda do Yoga, p. 63-64